Samuel Garbuio

com Sintética Idêntica ao Natural

Samuel-GarbuioNaturalmente Ser e Viver

O espetáculo Sintética Idêntica ao Natural diz muito sem dizer quase nada. No lugar do texto, o silêncio, os olhares, e uma proposta intimista da personagem Cintia Sapequara, que cria situações que misturam o real e a ficção, provocando risos, mas também sentimentos que nos levam a reflexão.

O público é convidado para entrar no espaço da encenação e aguarda enquanto Cintia termina sua produção em cena. Longas madeixas louras, formas voluptuosas e figurino de cores gritantes compõem a personagem que logo no início do espetáculo reúne o público em forma de círculo e serve chá aos seus convidados. O ato provocou certa reflexão em mim sobre algo como generosidade, cumplicidade, acolhimento.

Num segundo momento os convidados são levados aos poucos pela personagem, para outro ambiente. No espaço, objetos espalhados transmitiam ideias sobre quem é Cintia Sapequara, quais são seus sentimentos, anseios, desejos, medos, lembranças, prazeres, interesses.

Os movimentos e situações ao longo do espetáculo sempre traziam de maneira subjetiva o que Cintia queria comunicar ao público, e a compreensão das pessoas, também subjetiva, poderia ser as mais diversas. Para mim, quando Cintia sobe em uma escada – que simboliza o lugar mais alto no cenário – é para ficar onde ela quer estar: no palco, onde pode ser vista. E talvez seja ter visibilidade, o que ela mais quer.

Porém, em seguida, ela se junta novamente ao público e continua olhando para a escada, agora na igual condição, de espectador, daquele que olha para o ponto mais alto, onde todos querem estar, ou seja, todos são ou podem ser ora protagonista, autor da própria vida, e ora espectador dela.

Por último, a dança, a desconstrução da intimidade, a exposição total do artista que se move ora com sensualidade ora com rapidez. Para mim a mensagem transmitida é sobre como não nos permitimos ser, viver, sentir, e o quanto muitas vezes somos artificiais em nossas escolhas. São tantos medos e ponderações sobre como se viver que não se vive, não se dança quando se quer dançar, não se mostra quando assim o deseja fazer.

Mas Cintia faz, ela se expõe completamente, escancarando toda a sua vida, seus desejos, sentimentos. Para quem quiser ver e sentir. Basta olhar, sentir. E assim como a maior parte do tempo ficou, em silêncio ela vai embora, sem se despedir do público, sem pedir aplausos. Afinal, a arte e a vida ali se fundem, o que foi real e o que não foi já não importa mais, e sim a cumplicidade que ela propõe. Cintia é apenas ela mesma, igual a você e a mim, porém com uma dose a mais de coragem para ser e viver.


Samuel Garbuio, 32, estudante e estagiário de jornalismo que trabalha com comunicação desde 2013, quando começou a carreira em uma rádio comunitária, depois de mais de dez anos atuando em outra área.