Jussara Xavier

com Desastro + Deslocamentos + Estado Imediato + Futuros Primitivos + Menu de danças (Do it! + Corpo) + Hyenna – não deforma, não tem cheiro, não solta as tiras + Multitude + Tragédia + Suportar

PRECISA-SE DANÇA

REDUNDANÇA. Aqui estou. Me conquiste, por favor. Você precisa de mim? Mesmo? Pra quem você faz e diz? Você me parece “individual”. Precisa mostrar e falar tanto assim? Eu tenho tempo. Vi no programa: 50 minutos, 60 minutos, 70 minutos, 80 minutos, 90 minutos. Mas você abusa. Fico impaciente. Você me empodera, me empobrece: já sei o que vai acontecer. Penso: vem o x. X se apresenta. Agora y. Olha y aí gente! Estou chateada, não tenho tempo para perder. Com quem você está falando, afinal? Pena não ter olhado pra mim. Você pode fazer a gentileza de sintetizar e ir direto ao ponto?

SOMOS TODOS AMERICANOS. Andar. Correr. Cair. Gritar. Andar. Andar. Andar. Andar. Chacoalhar. Sambar. Cuspir. Deslocar. Deslocar. Deslocar. Deslocar. Lançar. Transportar. Conduzir. Empurrar. Puxar. Girar. Carregar. Carregar. Carregar. Carregar. 5. 6. 7. 8. Comece seu próprio inventário de ações e tarefas. Dance. Dance. Dance. Dance. Prudência para não inventar a roda.

COM QUE CORPO EU VOU. Nu ou mal vestido. Reflexo da crise econômica ou criativa? Solução justa, preguiça ou efeito bacaninha? Cuidado, ir na festa com a roupa errada pode ser um desastre. Eu te olho, desejo encontrá-lo. Agora quero caminhar e dançar com você. Não me interessa se você é gordo, magro, alto, baixo, negro, branco, velho, novo, tem cabelo vermelho ou verde. Quero apenas que sua energia esbarre em mim, me tome e inunde. Como ensinar um corpo a explodir? Alguns intérpretes de Tragédia sabem bem como fazê-lo. Palmas. Vão a festa bem vestidos.

AND THE OSCAR GOES TO. Som. Luz.

PETISCOS. Alguns rastros de experiências exploradoras de um presente dilatado, de buscas para reinventar a própria noção de dança, para mobilizar o vivo, potencializar o que há. Percepção de estratégias que almejam uma captação diversa do real, para gritá-lo ou perguntá-lo ou dizê-lo. Tempos-espaços que provocam o deslocamento do meu corpo. Participo da criação de novos possíveis.

VINHO. Tuca Pinheiro avança na idade, barriga e belezura. Bailarino bom é bailarino maduro. Sempre. Ângelo Madureira também comprova.

SELFIE. O bailarino falando com seu próprio umbigo. Movimentos e acrobacias incríveis. Como (des)juntar tais ingredientes para servir uma boa composição? Toc. Toc. Me deixa entrar!?

CRIA FAMA E DEITA NO LINÓLEO. Imediatamente em estado de choque. “Problemas de dramaturgia”, diz meu colega em seu modo elegante e generoso de falar. Como donos de tantos trabalhos incríveis conseguem fazer isso? Voltem.

CAN YOU HEAR ME MAJOR TOM? Meu nome é público. Pertenço ao anonimato. Lista das minhas assistências: Desastro. Deslocamentos. Estado Imediato. Futuros Primitivos. Hyenna – não deforma, não tem cheiro, não solta as tiras. Menu de danças (Do it! + Corpo). Multitude. Tragédia. Suportar. Direto da Bienal SESC de Dança na cidade de Campinas, setembro de 2015.


Jussara Xavier mora em Florianópolis, SC. Realiza projetos em parceria, como o Tubo de Ensaio, Múltipla Dança, Laboratório Corpo e Dança. Organiza livros, o mais recente: “Grupo Cena 11. Dançar é conhecer” (Annablume, 2015). Doutora em teatro, tem um contrato como professora colaboradora na UDESC prestes a expirar. Ui.