com Bife
Mastigando a pós-modernidade
Eu aguardava impaciente pelo início do espetáculo, já angustiado pelo tempo que um rapaz gordo, de camiseta vermelha e calça caindo, levava para preparar o palco para o artista entrar. A primeira grande quebra de expectativa foi no momento em que esse mesmo rapaz começou a tocar uma guitarra, ao perceber que ele era o próprio artista e que o espetáculo já havia sido iniciado há algum tempo. Um sentimento de desprezo por mim mesmo aflorava, ao perceber como eu havia sido preconceituoso ao esperar uma pessoa dentro dos padrões e mais bem vestida para apresentar a performance.
O espetáculo se desenrola da maneira mais bizarra possível, quando Gustavo Bitencourt segue se despindo, cuspindo no chão e emitindo sons estranhos de suspiros pelo microfone. Eu me sentia extremamente desconfortável e envergonhado pelos gestos experimentais do artista, que dançava de forma abstrata, intercalando notas em sua guitarra por assoadas de nariz em pedaços de papel higiênico, jogados no palco. Estive confuso durante toda a mostra performática, sem saber exatamente a hora que o espetáculo havia se iniciado e qual era a pretensão do artista. Defini tudo como “pós-moderno” ao extremo.
Após algumas quebras de expectativa, e uma longa desconstrução dentro de mim, cheguei ao fim do espetáculo rindo da situação cômica em que eu me encontrava (e maravilhado com a bela apresentação do clássico “Crimson & Clover”). Afinal, nunca que eu me imaginaria passando uma quarta à noite vendo uma pessoa de cueca cuspindo no chão de um teatro. De todos os espetáculos já vistos por mim, esse foi o que mais me incomodou, talvez pelo fato da postura do artista ser a que define a mim e toda uma geração criada pelo rock and roll. “Bife” me foi servido exatamente da maneira prometida pelo artista, sendo usado como forma de questionar modelos heteronormativos, brancos e ocidentais que nos é imposto. Ainda “mastigo” o espetáculo sem saber definir o que achei, mas satisfeito com tudo o que me foi transmitido.
Matheus Molina tem 18 anos e posta suas poesias e desenhos em uma página do Facebook, “Curativo Meu”.
Além de estudar Direito, aspira ser escritor e artista.