com Isso não vai acabar em lágrimas
Isso sempre acabará em lágrimas
Um projeto de separação. Algo que quase toda pessoa que se relaciona já viveu ou viverá na vida. Uma ideia que irá se concretizar e necessita encontrar os melhores procedimentos para ser executada.
Qual a melhor metodologia para lidar com o término de uma relação? Todos nós já nos deparamos com essa situação em diferentes escalas desde o término com um ficante, namorado ou marido. E nada melhor do que músicas de sofrência para nos ajudar a sofrer e a lidar com a perda do amor do outro.
Usar referências como Raça Negra, Só pra Contrariar, Adriana Calcanhotto, Milton Nascimento, Chitãozinho e Chororó, Cláudia Leite quebra com a tradicional tendência na academia em sempre nos referenciarmos em pessoas reconhecidas dentro desse espaço. Como se apenas as pessoas que tem títulos acadêmicos possuíssem credibilidade e estivessem fazendo coisas relevantes. A proposta culmina com a conquista pelo espaço da arte na universidade pois, ainda que os cursos existam, na maioria das vezes nós ainda precisamos usar pessoas de outras áreas para referenciar o que queremos dizer. Assim sempre recorremos a áreas mais reconhecidas dentro da academia para dizer coisas que as artes poderiam dizer por si próprias.
É interessante observar que a obra traz uma pesquisa que aproxima o público pois, ele se reconhece no problema de pesquisa que a artista traz. Algo raro em um ambiente em que as pesquisas são em sua maioria individualistas e buscam apenas satisfazer seus próprios desejos de estudo e pouco tem de devolutiva para a sociedade.
O trabalho acerta em encontrar a comicidade na tragédia recorrente na vida de todos, fazendo do cotidiano matéria de investigação. Tornar piada a própria desgraça é um meio não só de criação, mas de sobrevivência as tragédias cotidianas.
No momento em que a artista apresenta o objeto de estudo, o relacionamento e consequentemente o marido através de fotos, parece que ela irá revelar a identidade do suposto companheiro. Porém quando parece que finalmente nossa curiosidade será saciada, na verdade ela só aumenta, pois, o marido está apagado nas fotos. As imagens mostram a artista feliz ao lado do amor em diversos lugares do mundo, felicidade que já não existe mais e por isso se tornou objeto de estudo.
O desejo em ver o rosto daquele ser é intensificado ao passar das fotos e misturado a uma cumplicidade a artista que não deseja mostrar aquele que hoje é objeto de sua dor. Nos lembra o desejo que temos muitas vezes de apagar das nossas vidas pessoas que amamos e que nos fizeram sofrer. Desejo esse que se materializa na série Black Mirror no episódio 4 na 2º temporada chamado Natal em que em um futuro não muito distante é possível bloquear uma pessoa em sua vida, assim caso as duas pessoas se encontrem não é possível vê-la, apenas uma silhueta cinza, o mesmo ocorre para fotos, vídeos e qualquer imagem que exista da pessoa.
O trabalho aproxima o público ao trazer um problema que é em geral um desafio para cada pessoa a cada relação. Lidar com a nossa frustração em investir tanto tempo em algo que em algum momento passa a não dar mais certo é sempre um desafio. E o quanto isso se parece com as relações que criamos com os nossos TCCs, dissertações e teses que em muitos momentos se tornam verdadeiras relações de amor, dependência, ódio, possessividade e desejo. E principalmente, o momento mais doloroso, o da separação.
Vanessa Garcia é produtora cultural, mestranda em Artes Cênicas e graduada em Dança pela UFU. É criadora da Produtora Udi Crew, pelo qual organiza anualmente o Udi Urban – Festival de Danças Urbanas de Uberlândia e coordena o GEDU.