Apresentação – FIAC BAHIA 2016

‘Meta mão’: o espectador, o público e o comum

Finalizamos os preparativos para esta publicação, resultado da edição Precisa-se Público no FIAC Bahia 2016, ao mesmo tempo em que a PEC 55, que limita os investimentos sociais no Brasil, é aprovada no Senado Federal.

Mobilizadas por sentimentos de raiva, tristeza e inconformismo ao vislumbrarmos as graves consequências dos capítulos assustadores escritos na história do Brasil ao longo deste ano, nos perguntamos como os artistas e seus fazeres podem tomar posição e resistir em momentos como este.

‘Meta mão’ indicava o apelo/subtítulo da 9ª edição do FIAC, convocando curadores, equipe técnica, logística e administrativa, artistas e público à participação. Imbuídas desse espírito, tão alinhado ao Precisa-se Público, nos engajamos nas possibilidades de, resistindo aos sequestros impostos pelo neoliberalismo, pensarmos e praticarmos a criação de terrenos férteis para a luta e o fortalecimento de um possível público e comum.

Do raro encontro, proposto por esta edição do FIAC, entre tantos projetos de crítica com formatos e perfis diversos (AGORA Crítica Teatral; Antro Positivo; DocumentaCena com Horizonte da cena, Questão de Crítica e Satisfeita, Yolanda?; e Revista Barril), afirma-se a urgência de estarmos sempre atentos ao papel que nos cabe na formação do pensamento crítico.

Recebidas as críticas, buscamos reforçar nosso compromisso de abraçar fricções, pensamentos dissonantes e múltiplas vozes. Propomos tecer conversas alinhavadas nas disparidades, nas discordâncias e também nas comunhões entre as vozes dos espectadores que, afetados pelas experiências vividas ao longo da programação, responderam ao nosso convite. Por meio desse projeto que culmina na presente publicação, desejamos dar visibilidade aos olhares das testemunhas da intensa e diversa programação artística que tomou conta de Salvador entre os dias 25 e 30 de outubro de 2016.

Esperamos assim, no (micro) âmbito que este projeto opera, contribuir para dar visibilidade aos discursos anônimos, concebendo histórias a partir de outros pontos de vista e seguindo a indicação de Walter Benjamin: ‘escovar a história a contrapelo’.

Cláudia Müller e Clarissa Sacchelli