Mariane Araújo

com Carcaça

Mariane-AraujoSobre ver/fazer Carcaça

Sou e vejo carcaça. Me olho perto de outros na mesma situação. Sou público de quem conheço…. me assusto quando alguém machuca, componho quando me olham, troco quando percebo que dá… canso junto, bato junto, quero dançar junto. Olho pra quem está me olhando. Percebo e danço, na verdade, crio ação. Algo reverbera em mim e no outro. Olhares de susto, de “quebra mesmo”,  olhares de dó, olhares de força, olhares de estar junto ali.  Penso que não estou só, estou com mais 6 pessoas, mas estou com centenas, milhares. O olhar do outro me modifica, modifica o que vejo. Observo os “bailarinos” dançando… eles são e quebram a carcaça, estão perto, estão longe, estão mais longe de mim, mais perto de outras pessoas que desconheço… em uma mesma ação que me reconheço. Observo o trabalho de longe e de perto, percebo a produção correndo atrás do som, da água, dos nossos corpos. Percebo o cuidado com o outro, com a carcaça, com o dedo que pode se machucar. “Tão violento”, eu ouço. Tanto cuidado…. ouço, sinto, ajo. A carcaça entra, os corpos se organizam, alguém grita, as buzinas tocam, os corpos se batem ali, se chocam no chão, causam rebuliço, dançam, quebram mais a carcaça, soltam fumaça, colocam de volta no guincho e vão embora. Depois vem a sede, a vibração, as dores, presencio o que foi feito de outras formas, de outros falares, sede, sede, sensação de terminou, foi, acabou.


Mariane Araújo é graduanda do oitavo período em Dança pela Universidade Federal de Uberlândia, integrante do grupo profissional de Dança Contemporânea Grupo Strondum e membro do Grupo de Composição em Tempo Real Conectivo Nozes.