com Olho nu
A OLHO NU
Olhos gentis e nobres. Corpos resistentes, enérgicos e belos. Convite ao público para uma elaboração em conjunto. Espaço duvidosamente, talvez propositalmente, tacanho para a experiência a ser compartilhada.
“Essa é a minha session”, entoado por cada singularidade do grupo, corpos que se movimentam distintamente, como que compondo sua melodia ímpar, como pássaros raros que se apresentam para seu público… graça, vivacidade, encanto, robustez, olhos nos olhos…
De súbito, som pesado, amedrontador e os corpos se juntam, com gestos sincronizados, cadenciados, que, em conjunto e lentamente, se avolumam, se expandem, captam vigor de cada tronco, de cada contração muscular, crescem e, perante um público estupefato, uma fortaleza negra magnífica eclode e todos nós sentimos seu triunfo em nossos corpos, lágrimas que desejam brotar de meus olhos na presença de tamanha potência. Partículas sonoras corpulentas que mantêm toda a robustez construída fisicamente por corpos diligentes… suor, respiração ofegante…
Pôr do sol, raios cintilantes iluminam formas em constante construção … Fortaleza se remodela em estilo de brincadeira, pega-pega, um correndo do outro, sorrisos de crianças, desenvoltura… Combates, tensões, desafios, “o melhor vence”… Tamanha destreza em tal espaço insinua uma aplicação e treinamento obstinados, dores, prantos de agonia e de superação, coragem inigualável…
“Essa pode ser uma session”, brada um deles, e todos se detêm para contemplar uma perspectiva que desponta… o imprevisto que irrompe… incessantemente …
No final, corpos extenuados atirados ao chão, público em êxtase, vigor e energia que pairam no ambiente, experiência de resistência e beleza formidáveis, de uma nação que me compõe e me fortalece, que robustece meu coração, minhas veias, meu respirar, meu clamor, meu viver…
Mary Yassue Fujimori é formada em Tradução (Unesp – São José do Rio Preto). Faz do escrever uma experiência catártica, onde aquilo que atormenta finalmente ganha talhe e concretude.