Filipe Moreira

com Nós

“Nós” te dá caipirinhas, sopa e muitos nós

“Nós” é um pronome pessoal reto que substitui conjuntos de substantivos que indicam uma pluralidade de pessoas. Passamos a ser “nós”, quando deixamos de ser “eu” e uma simples olhada no cotidiano, mostra que somos muito mais “nós” do que “eu”. O Grupo Galpão de teatro te dá uma caipirinha, uma sopinha, desfaz o seu “eu” e te enrola em nós com o espetáculo “Nós”.

Um grupo de amigos brancos e artistas se junta e durante o tempo de preparo dos comes e bebes, as características da inércia cotidiana que acomete a maioria dos grupos aparece. Uns tem mais preguiça de trabalho, outros são mais dispostos mas, no final, todo mundo coloca a mão na massa, seja para cortar a batata doce ou para apontar alguma situação vista ou vivida, mas que ninguém fará nada para mudar.

Seja preto, mulher, puta, gay ou boliviano, a sociedade tem um espectro de opressões que são constantemente discutidas nos almoços com a galera, mas, de novo, ninguém fará nada para mudar. “Nós” te faz questionar essa paralisação diante de ações que, feitas em grupo, são o que dão forma para as mudanças sociais. Diálogos e cantorias aceleradas, repetidas em uma crescente de frenesi para te fazer internalizar quantas vezes você já pensou e discutiu sobre as questões sociais, mas… nada fez para mudar.

Depois que todo mundo toma seu copo de caipirinha, a cabeça fica mais agitada e as sensações afloradas dão lugar às reflexões que nós fazemos sobre o “eu”. E aí, vira aquela confusão de ideias, análises e tentativas de tocar na complexidade do ser humano que toda roda de amigos faz muito bem e sempre termina em lama, como Mariana. Ah… falando em Mariana, temos lama, mortes, crianças, desabrigados, desastres naturais, (falta de) políticas públicas e assistência social, muita conversa, muita análise e nós fazemos o que para mudar? Nada!

A sopa ficou pronta! Ta todo mundo servido, né? Essa é a hora que todos estão entrosados e já mostrando aquela face que só dá para esconder enquanto a convivência for curta e efêmera. Então coloca a música, vamos dançar e terminar em festa, porque eu não posso fazer nada para mudar o mundo e, segunda-feira, ainda tenho que trabalhar.


Filipe Moreira, 24 primaveras librianas de muitos rabiscos, vícios, momentos e pessoas. Perpassando o Jornalismo, mas foi no palco que experimentei o elixir da alma! moreirafilipe.10@gmail.com