Marta Barbieri

com Biomashup

Marta-BarbieriUm inteiro é composto por frações

Cadeiras dispostas em fileiras incompletas sob um barracão. Seis bailarinos que não ocupavam um palco, mas faziam do espaço entre as fileiras seu palco. O espaço do barracão era grande, fazendo com que quase nunca dois bailarinos ocupassem o campo de visão do espectador simultaneamente. Víamos um por vez, mas não por muito tempo, dado os revezamentos e movimentações. Não tínhamos um espetáculo à nossa frente: ele era entre nós.

Perdíamos e encontrávamos os bailarinos durante toda a performance, “Pra onde ela foi?”, se olhássemos pra trás a encontraríamos: “Ah, está no outro extremo!” Se você tentasse seguir um dos bailarinos com os olhos, perderia de vista seus movimentos pela distância, mas encontraria mais próximo outro bailarino, igualmente curioso em seus gestos mas em um diferente corpo. A continuidade se dava justamente pela costura entre os atos dos seis bailarinos realizados separadamente, perto ou longe do espectador.

Havia um sétimo elemento em cena, este não se movimentava por todo o barracão, mas ocupava fixamente uma das extremidades (percebo que considerar uma frente já não faz tanto sentido). Ele era o responsável pela música que embalava a dança dos bailarinos, e essa música se fazia impressionar. Uma pequena caixa de madeira com uma antena e um conjunto de botões, daqueles característicos das mesas de som, eram seus únicos instrumentos. A antena era um sensor de movimento, que emitia ruídos de acordo com a intensidade e direção do que fazia a mão do maestro. A música que cadenciava as movimentações era justamente criada por elas. Os ruídos eram de uma música eletrônica bruta, como se a música-eletrônica-de-boate fosse posterior, lapidada. Lá ouvíamos os ruídos e interferências rusticamente. Se o mashup na música é a fusão de duas canções diferentes em uma, cabia aos espectadores compor –cada um à sua maneira- a unidade do espetáculo a partir dos fragmentos apresentados.

A iluminação natural deu lugar à artificial, já que passava das 18h. Víamos maçãs sendo mordidas pelos bailarinos sem saber onde as haviam encontrado, os víamos passando com as mãos molhadas sem saber quem as molhou. As mãos molhadas deram lugar às luvas brilhantes que, seguindo um dos bailarinos, foi possível vê-la ser feita após enfia-las em um balde com glitter. As ações eram inquietantes tanto pra nós quanto pra eles, que continuavam a movimentar-se pela extensão do barracão. A luz se apagou. No breu, não havia mais bailarinos, luvas de glitter, frações de movimentação. A potência da luz nos fez encontrar o glitter brilhante, os corpos trêmulos por entre as fileiras e os movimentos da mão do maestro que produzia o que era ouvido. Sem a luz, perdemos todos; menos aqueles que se encontravam com um dos bailarinos caídos sob seus pés e pernas. O contato físico a luz não desfez.


Marta Barbieri é estudante de Ciências Sociais