com Bienal Sesc de Dança 2015
O corpo como imagem, e depois sensação
No final de uma semana assistindo espetáculos de dança, acho que assistimos dez ao todo, guardávamos na memória as imagens que aqueles corpos formaram na nossa frente. A vontade era experimentar todas elas, caminhar por aqueles movimentos que nossos olhos acompanharam maravilhados. Sim, porque a compreensão dos olhos parece não caber em si e nos convida a um passo além. O que será que estavam fazendo aqueles dançarinos? Dançar no final daquela semana era como responder, com graça, a tudo aquilo que havia chegado a nós por meio de tanta gente diferente. Era como poder tocar o mistério… E de fato, ali, de pé, podíamos reconhecê-lo muito próximo de nós mesmos. Sentir todo seu peso, aqui. Corpo. Imagine tudo isso acontecendo num pequeno ambiente preparado para o convívio, com música e almofadas para sentar e conversar. Um espaço de convite. Todos se viam muito parecidos ali: plateia e dançarinos fora do espetáculo. Um dos bailarinos, que vimos se apresentando lindamente naquela mesma tarde, veio girando incluir os corpos dos convidados, os “não-dançarinos” um pouco “desaquecidos”, que foram se juntando por ali. Os que trabalham com a dança mostravam que já andaram por lugares que nós, aqueles que não se dedicam aos movimentos, não conhecem ainda. Era possível perceber isso em suas simples interações descontraídas com a música que tocava naquela noite de reencontros e descanso. Seus movimentos eram daqueles que carregam em si memórias do tempo que passaram com o próprio corpo. Mas, para o olhar atento as diferenças diminuem… Foi possível perceber, em meio a tantos pensamentos, aquilo que é comum a todos. Somos feitos da mesma matéria. Assim, se ouviu claramente um convite, nenhuma outra ferramenta é necessária. A nudez tão presente em várias apresentações de dança não é só aparente, a nudez é então o reconhecimento do que somos sem exceção.
Naquela noite meu corpo me levou para dançar. Minha luz e minha sombra costumam arrastar meu corpo por aí, mas a novidade foi ser embalada pelo meu ventre. Embalada por um corpo que me acolhe sem necessidade de conquista. Senti algo me envolver. De repente, aquela enxurrada de imagens que me fez sonhar durante toda semana, revelou-se em sensações. Elas já estavam todas guardadas aqui, o corpo carrega mais do que imaginamos, silencioso queria transbordar. Ampliou-se. Quanto prazer na descoberta de Habitar! Somos!
Isabelle Cedotti nasceu em 1991, na cidade de São Paulo.
É graduanda do curso de Artes Visuais da Unicamp e tem se dedicado ao trabalho de gravura, desenho e pintura. O mistério das imagens que essas práticas produzem tem a ajudado a procurar no corpo a fonte de uma beleza que se revela na matéria. Tem se interessado pelo estudo do corpo e do movimento como busca por entender as imagens que forma no ambiente a sua volta com essa que reconhece ser sua matéria permanente.